Em casa com Nabokov (Leslie Daniels)
Barbara Barret é uma mãe de
39 anos que, por causa de uma máquina de lavar louças, perde a guarda dos
filhos. “Liberdade” é o que ela disse que queria ao sair de casa com as duas crianças.
“Mais um pouco do livro” é o que eu quero. E, talvez, sempre vá querer.
Depois do divórcio, Barb
encontra um suposto manuscrito de Nabokov, antigo dono da casa onde ela mora, e
sua vida começa a fluir como não fluía há muito tempo. Não pelo manuscrito, mas
pelos lugares onde ele a levou.
O início do livro é de
cortar o coração. Leslie Daniels teve o dom de colocar a tristeza da personagem
principal em cada linha. É uma melancolia tão forte que chega a ser nossa, a
fazer parte do nosso eu mais profundo. Tudo fica ainda mais triste (como se
fosse possível) quando traços da personalidade das duas crianças são descritas
do ponto de vista de Barb. Ela não sabe, mas, para os leitores, as atitudes dos
filhos são um claro grito de saudade de cada mínimo pedaço da mulher que vai se
despedir deles no início da semana.
Gradativamente, o livro muda
de tom, tão sutilmente que nós só percebemos essa mudança quando chegamos ao
fim. Um toque leve de humor se mistura ao drama inicial e vai se alojando em
cada frase ali escrita.
“Em casa com Nabokov” é um
dos livros mais delicados que eu já li. A narrativa é melancólica na maior
parte do livro, mas não é chata e nem se torna monótona. A passagem do tempo
fica evidente sem precisar de muitos detalhes e a alma da narradora nos é
entregue em cada página.
Sobre os demais personagens,
eu me apaixonei pela compreensão de Greg e por Darcy e sua coleção de mais de
cem bolsas. Margie é uma amiga incrível e Matilda é uma amor de cadela. Pena
que Barb não percebe isso imediatamente. Apesar de ser focado na própria
narradora, o livro explora muito bem os outros personagens, principalmente os
filhos e a mente meio desgovernada de uma mãe que perdeu seu bem mais precioso.
O que é condizente com a profissão de escritora da personagem principal.
Dizer que eu recomendo a
leitura é pouco. Poucos livros foram os que me fizeram ter vontade de chorar
logo nas primeiras cinquenta páginas e que me fizeram sorrir por horas e horas
depois de ter lido tudo. Menos livros ainda me marcaram para a vida toda. “Em
casa com Nabokov” é um deles.
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